A Arca de Noé Vivapets distinguiu como Animal da Semana

domingo, 18 de abril de 2010

avô.

entrei, com receio, na expectativa de mostrar ao meu namorado o meu local de eleição em criança. queria mostrar-lhe o sítio que eu idolatrava em pequena. para lá eu ia com o meu avô...
no entanto, naquele dia, tudo me parecia pequeno, diferente. relembrei os dias de sol do ano de 1998, onde o meu avô punha pedrinhas no chão que eu tinha de contornar com a bicicleta. observei tudo à minha volta e sentei-me numas escadas que me fazem lembrar um templo grego. aí enumerei todas as quedas que dera em pequena com a bicicleta, todas as tentativas de me colocar em pé. olhei para trás e recordei-me do local onde o meu querido avô se punha a ler o jornal e a tomar conta de mim.
aquele sítio era o nosso refúgio: brincávamos, jogávamos às caçadinhas, ele ensinava-me coisas novas. era uma pessoa muito culta, muito pessoa do seu nariz. raramente sonhava alto, pois assim a vida lhe dissera para não fazer. raramente saiu à rua com os seus filhos e a minha avó, pois assim a vida não lhe permitira. vivia de certa forma frustrado por nunca ter conseguido desenvolver a sua liberdade. porém, com a reforma, ele teve tempo para dar atenção a uma pessoa: a mim.
a ele devo-lhe grande parte da minha educação, grande parte do meu ser. por mim, ainda hoje estaria com ele, ali, naquele sítio, o pátio do marquês. a ele peço-lhe desculpa por não ter dito tudo o que queria, e teria-lhe dado a mão mais uma vez. uma forte doença o atacou, mas estarei sempre com ele.
peguei na mão do meu namorado e as lágrimas caíram-me. fui embora.

(continuarei a andar de bicicleta contigo no pátio do marquês, meu avô!)